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02/09/2013

Academia de Ginástica/1876

Esta foto me foi enviada pelo amigo Leonardo Humberto Bucher, companheiro da CNS (Confederação Nacional de Serviços), residente do Espirito Santo que contou um pouco da história do seu avô proprietário de uma academia de ginástica de 1876. Veja a integra da carta recebida.

Prezado Prof. Gilberto Bertevello,

A propósito de nossa agradável conversa de ontem, trancrevo, na sequencia, três passagens do livro "Albert Richard Dietze - Um artista-fotógrafo alemão no Brasil do século XIX" escrito pela professora doutora Almerinda da Silva Lopes sobre a obra, e parte da vida, do meu bisavô prussiano. Em anexo, segue a foto da qual ela fala nestes parágrafos tal e qual encontra-se digitalizada nos arquivos da Biblioteca Nacional, isto é: em formato PDF com a dedicatória em língua alemã que meu bisavô escreveu para o imperador D.Pedro II (D. Pedro falava fluentemente alemão até como forma de se comunicar com a imperatriz Theresa Christina Maria, ela austríaca da linhagem dos hausburgos, prima do nosso imperador). Ai vai:

I "(...)
Na Suiça leopoldinense, a oficina fotográfica foi instalada por Dietze numa edificação própria, nas proximidades de sua residência. Possuía o telhado inclinado à moda alemã, coberto de tabuinhas imbricadas como se fossem escamas, material esse que também reveste a fachada até a altura das duas janelas frontais. O estabelecimento era identificado por três placas retangulares de madeira: na superior, que ocupava quase toda a extensão da frontaria, lê-se em enormes letras o nome ALBERT RICHARD DIETZE, e em outra, colocada logo abaixo daquela e em letras um pouco mais reduzidas, foi inserida a sua especialidade: PHOTOGRAPHO; a terceira placa, está situada à direita da edificação e ao lado de uma das janelas, e tem os dizeres grafados em alemão, Deutscher Turverein (Clube Desportivo Alemão). Ressaltava, assim, o funcionamento, no espaço contíguo à oficina fotográfica, de uma academia de ginástica ali instalada por Dietze no mesmo ano de 1876. Os aparelhos (cavalos e barras) foram instalados ao ar livre, conforme se observa na fotografia, pertencente à coleção Theresa Christina Maria, na Biblioteca Nacional. No entanto, esse último empreendimento não permaneceria em funcionamento por muito tempo, talvez em razão da falta de clientela.


II (...)
Nessa fotografia, Dietze registra vários homens praticando exercícios nos aparelhos mencionados, os quais encontram-se distribuídos no espaço que vai do centro até a extremidade direita da imagem. As três figuras centrais colocam-se em pé e na frente de um enorme e tosco cavalo de madeira, não muito elevado, o que o torna semelhante a um banco. Pelas posições eretas e cerimoniosas que os ginastas assumem, e pelas vestimentas que denotam elegância, parece tratar-se da festa inaugural do empreendimento, até porque, o homem da direita segura, respeitosamente, o mastro de uma bandeira, enquanto um objeto, que lembra uma concertina ou acordeão, foi colocado sobre o cavalo, e de frente para o indivíduo da esquerda.Todos os homens usam um mesmo tipo de boné e aqueles que ocupam o lado direito da foto, equilibram-se nas barras, fazendo acrobacias nas estruturas de madeira. Sobre uma dessas barras e numa parede lateral, notam-se mais dois letreiros, contornados por uma espécie de moldura, onde estão grafadas palavras ilegíveis, em razão da distância que se encontram da objetiva e do observador.

III (...)
Esse registro fotográfico coloca, assim, lado a lado, dois dos investimentos pioneiros que Dietze abria à comunidade de Santa Leopoldina, os quais exprimem, por si só, tanto a ousadia e a vontade de oferecer aos conterrâneos opções de divertimento e lazer, como o seu arrojo e espírito inovador, ao tentar transformar em opções lucrativas, atividades que, certamente, causaram estranhamento e perplexidade, de modo especial entre os lavradores mais humildes e incultos.


Localizando as coisas:
- Santa Leopoldina, antigo Porto de Caxoeiro na época em questão, era a colônia mais próspera e commais imigrantes europeus do estado do ES tendo, inclusive, mais habitantes do que a própria capital Vitória (12 contra 8 mil habitantes). Situa-se a menos de 50 km da capital indo em direção à Região Serrana Central do nosso estado.
- Leopoldinense refere-se, portanto, a coisas de Santa Leopoldina, que ganhou este nome como homenagem à mãe de D.Pedro II.
- Suiça é um distrito de Santa Leopoldina que ganhou este nome devido a ser o local onde se radicaram seis famílias vindas do Cantão de Zurich, Suiça (na época, Confederação Helvética), uma das quais de outros dois bisavós meus, ai os Bucher. Dietze deu o nome para o local de Estação Caja, em homenagem à sua cidade natal Kaja, na Prússia, então parte do Império Alemão, mas o nome não se sustentou após sua morte e hoje o local é conhecido como Suiça mesmo.

Paro por aqui para não cansá-lo com tanta história, mas fico à disposição do meu bom amigo, para qualquer outra coisa em que eu puder ajudar.

Um forte abraço,
Leonardo Humberto Bucher