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04/02/2013

ATESTADO MÉDICO: ENTREVISTA COM DR. TURÍBIO DE BARROS.

A imprensa tem  divulgado que as Academias estão livres do Exame Médico, uma inverdade que nesta entrevista condutor Turíbio de Barros fica esclarecida.

O Sindicato das Academias procurou o Dr. Turíbio Leite de Barros Neto, Fisiologista da UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo, e autor do livro “O Exercício”, escrito em parceria com o Dr. Nabil Ghorayeb, para saber sua opinião sobre a questão do Atestado Médico, assunto que está sendo foco da mídia, em decorrência da promulgação da Lei nº 15.681, de 4 de janeiro de 2013.

Sindicato das Academias – Foi publicada no Diário Oficial da Cidade a Lei nº 15.681 de 4 de janeiro de 2013 – que altera a Lei nº 15.527, de 14 de fevereiro de 2012, que deu nova redação à Lei nº 11.383, de 17 de junho de 1993, que fala sobre novas exigências sobre o Atestado Médico e o Questionário de Prontidão para Atividade Física (PAR-Q) seguido de Termo de Responsabilidade assinado pela clientela. O que o Sr. pensa a respeito?

Dr. Turíbio Leite de Barros Neto – Essa questão é difícil de resolver, porque em primeiro lugar, a lei anterior que exigia Atestado Médico a cada 6 meses era um exagero. Acabava até representando um obstáculo para o indivíduo fazer atividade física. Era até um desserviço, porque muita gente deixava de fazer atividade física por dificuldade de ficar mantendo o Atestado Médico semestral. Neste aspecto, realmente, a lei anterior era inadequada.

Agora, o que exigir para fazer atividade física é um muito relativo e depende até de qual atividade o indivíduo vai fazer. Quando se fala em atividade em Academia, está se falando de um ambiente muito mais controlado, melhor monitorado, do que quando, por exemplo, alguém vai correr sozinho na rua ou no parque. É necessário que seja feita uma discussão mais ampla a respeito para se chegar a um consenso de qual seria a exigência adequada.

Talvez o questionário PAR-Q seja um instrumento útil, mas para muitas situações ele não é suficiente. Agora, é difícil o Atestado Médico proporcionar a segurança e o respaldo adequado para que o indivíduo não tenha a probabilidade de sofrer um problema. Até porque, muitas vezes o Atestado é emitido de forma inadequada.

Cada vez mais temos sim é que transferir a responsabilidade para o aluno. O praticante de exercício tem que ter responsabilidade e consciência de que se ele tem um fator de risco, uma história familiar ou razões para ter mais preocupações com a sua saúde, precisa ter a retaguarda de um médico.

Mas é mais recomendado exigir Atestado Médico e/ou controle de saúde de quem não vai fazer exercício, porque este tem muito mais chance de ter problema. O exercício, por sua vez, pode e vai até melhorar o estado de saúde do indivíduo.

 

Sindicato – Qual a importância de se trazer Atestado Médico para o ingresso na Academia? O Atestado é relevante para o início da atividade física?

Dr. Turíbio – Se isso fosse levado a sério seria uma prerrogativa interessante, mas não acredito ser necessário se essa revisão for num intervalo tão curto de tempo. Anual já seria adequado. Mas mais importante do que isso é realmente transferir a responsabilidade para o indivíduo.

Na maioria dos países de primeiro mundo, quem vai frequentar a academia assina um Termo de Responsabilidade e tem que ter consciência do que está assumindo no local.

Agora não se pode deixar proliferar a ideia de que fazer exercício físico na Academia é uma situação de risco. Até pelo contrário, quem vai para a Academia está cuidando mais da saúde do que quem não vai.

É preciso deixar de lado um pouco dos interesses pessoais e corporativos para pensar na saúde das pessoas. Pensar na saúde das pessoas é estimulá-las a fazer exercícios e não ficar atemorizando-as com a informação de que ‘exercício é perigoso’ e que é preciso ter uma enorme preocupação com a saúde se for fazer exercício.

Consultar um médico e não fazer exercício antes de uma avaliação médica vale para todo mundo e, principalmente, para quem não vai fazer exercício.

Agora, não existe exigência quase nenhuma em termos de responsabilidade quando se pensa em corridas de rua. Quando o indivíduo vai fazer uma inscrição para uma corrida de rua, ele está até muito mais vulnerável do que quando ele vai fazer exercícios dentro de uma Academia.

As estatísticas não mostram pessoas morrendo em Academias. Se morrer uma vai ter uma grande repercussão. E, no entanto, toda hora morre alguém fazendo maratona, corrida de longa distância... A Academia está sendo patrulhada e em outras situações onde o indivíduo não poderia estar participando não tem tanto rigor na vigilância. Com isso não estou querendo dizer que se deva coibir a participação das pessoas nas corridas de rua. É uma situação que se deve até incentivar, porque é claro que quem está fazendo exercício, correndo, se preocupando em fazer atividade física, está muito menos sujeito a ter problemas do que aquele que não está fazendo.

Então, vamos estimular quem não está fazendo exercício, também, a ter um Atestado Médico a cada 6 meses, porque esse indivíduo está correndo muito mais risco de ficar doente do quem está frequentando a Academia.

Atestado é uma coisa muito superficial, porque o médico para atestar faz uma anamnese, semelhante ao que tem no PAR-Q, mede pressão e ausculta, o que não garante que o indivíduo não tenha um problema de saúde.

Se o que se quer é ter segurança, é preciso fazer um teste ergométrico, um ecocardiograma, exames bioquímicos e hematológicos, o que se justifica quando o indivíduo vai fazer atividades físicas muito intensas. É o caso de atletas profissionais e praticantes de atividades competitivas de alta intensidade. Mas, na maioria das vezes, não é o caso de quem vai fazer exercício em Academia. Mas, a aula de spinning, por exemplo, embora tenha uma solicitação mais intensa, está sendo ministrada em num ambiente controlado, no qual o indivíduo tem que confiar que exista um professor com formação e competência para moderar a atividade. Como vê, é muito mais seguro exercitar-se na Academia do que sozinho em casa.

Vamos exigir, talvez, que se corrijam as imprudências dentro das Academias e não limitar a participação dos indivíduos nas atividades.

Avaliação Física já é um processo que pode ser praticado com diversas abordagens que teria como propósito fazer um diagnóstico de aptidão física do indivíduo, para que o profissional possa, em pose dos resultados, prescrever a atividade que respeite os seus limites. E é subsequente a uma comprovação de saúde. Comprovou que está saudável, então vai investigar quanto apto está para a atividade física desejada. E aí, pelo diagnóstico de aptidão é possível fazer uma prescrição adequada para ser desenvolvida dentro da Academia.

 

Sindicato – Em seu livro, “O Exercício”, escrito em parceria com o Dr. Nabil Ghorayeb, o Sr. fala no teste de PAR-Q. O teste é suficiente como prevenção ou deve ser seguido de uma Avaliação Física?

Dr. Turíbio – É discutível a validade da resposta ao questionário como uma evidência plena para se ter segurança. Claro que não é seguro nem quando é feito um exame médico superficial. Segurança é muito relativa.

Como já disse anteriormente, a Avaliação Física é um passo seguinte a um Exame Médico. Aí a proposta é dar dimensão à tolerância que o indivíduo tem para determinadas intensidades para poder prescrever o exercício adequado. Isso é imprescindível que se faça.

 

Sindicato – Segundo o Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM – American College of Sports Medicine) as atividades realizadas em Academia são classificadas como de risco moderado. O Sr. recomendaria, como necessária, outra providência além do teste de PAR-Q e da Avaliação Física?

Dr. Turíbio – Concordo plenamente. Claro que existem situações que existem exageros e imprudências. Isso ninguém pode controlar. Mas, como regra geral, a atividade em Academia é de risco moderado. As atividades competitivas são de risco muito mais sério do que as atividades de Academia.

É difícil você chegar a uma proposta que possa atender aos dois lados, aos vários interesses. Arriscaria sugerir uma proposta a partir do Legislativo, uma chamada a uma discussão mais ampla para que se chegue a um consenso. Teria que se ouvir todos os lados – classe médica, empresários, donos de academias e professores, para se chegar a uma solução que atenda a todos os interesses e conseguir detalhar melhor o que é essa exigência, o que é esse Exame Médico e a que periodicidade seria necessário ele existir.

É importante, sim, conscientizar o indivíduo a procurar um médico, principalmente, dependendo das características dele. Não pode ser uma norma generalizada. A exigência para um jovem não pode ser a mesma para um indivíduo de 40 anos, que seja hipertenso, diabético.

 

Sindicato – Quem está mais sujeito a riscos com a saúde, o atleta de alto nível ou o praticante de Academia?

Dr. Turíbio – Na verdade, exercício não é risco para ninguém. O risco existe quando o indivíduo tem uma doença e não sabe que tem essa doença. Agora, ele tendo essa doença o exercício pode ser o gatilho para desencadear... Mas, é bom lembrar que, a doença pode aparecer até em atividades ocupacionais e o indivíduo morrer dentro de casa. O risco é da doença não diagnosticada e não de se fazer exercício.

 

Sindicato – O Sr. quer fazer algum comentário ou recomendação ao Profissional de Educação Física ou ao Empresário de Academia nessa questão da prevenção e responsabilidade pela integridade física do cliente?

Dr. Turíbio – É preciso ter bom senso. Ao proprietário da Academia cabe manter uma boa infraestrutura e profissionais com formação adequada. Ou seja, evitar a contratação de profissionais que não tenham formação em Educação Física. Ter até recursos para uma atendimento de emergência é importante. Não custa nada também ter um profissional treinado em reanimação cardiorrespiratória.

O profissional de Educação Física deve se manter atualizado, respeitar a saúde do cliente, do aluno, adequando a intensidade que ele pode tolerar, dependendo da forma que a atividade seja empregada ou tipo de aula. Ou seja, respeitar a aptidão física individual de cada um.

Para o médico, não fazer terrorismo.

Para saber mais sobre as opiniões do Dr. Turíbio de Barros, inclusive sobre o tema, acessewww.drturibio.com

 

Reportagem: Célia Gennari